
ela... lembra-se da fúria que sentiu
nunca tinha sido fotografada
o fotógrafo também se lembra desse dia
apercebeu-se da sua timidez
a luz era suave
o retrato acabou por se tornar a imagem que nos atinge em cheio
os olhos da rapariga são verde-mar
ardem de ferocidade
a sua pele parece cabedal
olhos captados que nos capturam
neles podemos ver a tragédia de uma nação devastada
a simplicidade do seu dia-a-dia:
levanta-se antes do sol
vai buscar água ao ribeiro
cozinha, limpa a casa e lava a roupa
na rua, usa a burka "negra"
que a separa do mundo
e do olhar de qualquer outro homem que não o marido
refugia-se num véu que lhe cobre a face
como se ao fazer isso pudesse desaparecer
os seus olhos ardiam de raiva
será que alguma vez se sentiu segura?
"Não"
consegue escrever o seu nome, mas não sabe ler
a educação, diz ela, dá um brilho nos olhos
mas ela não tem direito a essa "luz"
Lumenamena
Sem comentários:
Enviar um comentário