10.12.09

O Sentido da Vida


Existência

“É chegada a hora de nos separarmos: eu para morrer, e vós para viver. A minha sorte ou a vossa, qual será a melhor?” Ninguém, a não ser a divindade, saberá responder”.

Estas terão sido as palavras de Sócrates no fim do julgamento a que foi submetido, em Atenas. Todos sabem que Sócrates foi um mártir da filosofia. Foi condenado à morte pelo facto de ter disposto a sua vida com o impulso de despertar os homens da sua terra, obrigando-os a afastarem-se das preocupações corriqueiras, forçando-os a reflectirem-se sobre os problemas mais profundos, relativos ao sentido da vida e à noção de bem.
O problema do sentido da vida é aquele que se põe com a maior naturalidade. Se nos ouvirmos a nós mesmos, se auscultarmos as nossas próprias inquietações, na sua maior profundidade, veremos que o que se passa é que colocamos espontaneamente a questão da significação da existência. De onde vimos? Quem somos? Para onde vamos? E estas questões põem-se naturalmente. Basta que possamos desligar-nos por instantes das preocupações que nos aprisionam à vida prática. O problema que se põe é: conhecer o significado deste facto de nascer, viver e morrer. É sempre assim: nascer, viver e morrer, isto parece-me normal. Mas o nosso pensamento podia exigir que fosse diferente. Mas pensemos bem: podemos imaginar que o homem nascesse velho e morresse criança. Qual a necessidade de nascer criança? Mas o facto é que a realidade é assim. Verifico então um facto da maior importância: a irreversibilidade da vida. Ela parece ter uma direcção. Não podemos mudar esta direcção. E o que tem direcção tem um sentido. E é este sentido, que procuro conhecer. E é pelo facto de existir este sentido, que não posso deixar de colocar o significado da vida. Porque o que encontramos, no mundo dos seres vivos, não é um simples flutuar. Encontramos uma direcção, encontramos uma irreversibilidade, e isto é um desafio à nossa inteligência.
Lumenamena

20 comentários:

UN VOYAGEUR SANS PLACE disse...

"Irreversibilidade da vida"... Não encontro uma expressão assim profunda desde que vi o título daquele livro de Milan Kundera: "A Insustentável Leveza do Ser", há!

Falando sério, teu blogue está maravilhoso como sempre. Essa pergunta de qual é o sentido da vida parece tão filosófica (e é) que pouca gente ainda tem coragem de expor. Claro que o texto está no afirmativo e não no interrogativo, porém a pergunta não fou nem será respondida com nossas palavras, nem com nossa razão. Apenas com o sentir. Não sei de onde vim, nem pra onde irei, mas sinto que sei o que me faz feliz, e isto me bastaria claro, se eu o tivesse.
Felicidade, não pode ser o sentido da vida, não ela apenas, pois o sadismo é uma forma de felicidade, e uma que vem do desprazer alheio. Então, ficaria eu meio sem graça de dizer que pra todos ela é o sentido da existência. Pra mim, que sei que a minha não adviria do sofrimento de ninguém, esta é a resposta: felicidade. Onde estás, felicidade!?

TK disse...

Querida, orbigada pelo comentário do blog...
Acredito que respostas para varias questões filosóficas nós não encontraremos nessa vida (pelo menos racionalmente), então não adianta muito questiona-las, por isso, acredito que viver em plena consciência é a saída, cada minuto deve ser único e vivido intensamente.
Beijos

Lumenamena disse...

Abdoul Hakime,

"A Insustentável Leveza do Ser", explora as vastidões do território do amor. Já li o livro e deixou-me um travo de nostalgia e um brilho diferente, triste, melancólico e amargurado.
São expressões, assim como a "Irreversibilidade da vida", como o próprio título do texto nos diz: "Sentido da Vida" - havendo uma incompatibilidade inversa.
São questões filosóficas de inesgotável sabedoria humana.
A felicidade não pode ser o sentido da vida, por apenas ela somente.
O amor dá sentido às nossas vidas, tal como a amizade, a arte, ou a própria crença numa entidade superior, isso sim, são factores de felicidade, de paz interior, de harmonia, que sustentam as nossas existências.

Sadismo? Felicidade?

Sadismo, é o outro lado da existência humana, a crueldade, a dor, o mal, são tigres escondidos. Estes são factores da infelicidade, geradores de falta de sentido da nossa vida. Aí está, a irreversibilidade da vida.

Abraços,
Lumena

Lumenamena disse...

Querida TK,

Filosofia não é nada mais do que o questionamento das coisas. Por isso ela serve para nós podermos pensar e revêr, vários conceitos, todas as coisas que aprendemos desde a infância.
É necessário raciocinar, possibilitar a compreensão da origem das coisas e das suas transformações temporais.
Viver em plena consciência, também é importante. Tudo junto, vive-se intensamente.

Beijos,
Lumena

Diogo Rugeiro disse...

"Ela parece ter uma direcção".... Todo na vida tende para uma direcção... agora isso não implique que não possamos "mudar de direcção".. ou melhor, o curso das nossas vidas...
Pensa num rio... Todo o rio flui numa direcção... agora ve a sua evolução "abstante" do factor "tempo"... Ele continua "vivo"... ele continua a "mudar-se", por assim dizer... (river banks)...
E só mesmo naquela... é no "novo" que se vislumbram oportunidades... potenciais... e inovação... nascer "velho" implica uma maior resiliencia a mudança... e disso é um pouco mais dificil "retroceder"!

Lumenamena disse...

Diogo Rugeiro,

Excelente visão!

Quando digo "não podemos mudar esta direcção", referia-me ao factor, existência. Nascer, viver e morrer.

É pressuposto podermos mudar o curso das nossas vidas, dizes e muito bem. E podemos tomar essas decisões, também!
É importante salientar que as novas oportunidades, potenciais, inovações são novos desafios, que têem de ser tomados para que não se desperdice, e atingirmos uma melhor performance.
O fascínio que o "novo" exerce está dentro de grandes emprendimentos humanos, no fundo o homem quer novas experiências.

Grata pelo comentário,
Lumena

UN VOYAGEUR SANS PLACE disse...

"O amor dá sentido às nossas vidas, tal como a amizade, a arte, ou a própria crença numa entidade superior, isso sim, são factores de felicidade, de paz interior, de harmonia, que sustentam as nossas existências."

Merci por exclarecer, estou de acordo e penso que completas assim o meu pensamento.

Quanto ao lado "tigres escondidos", creio que também é verade. Todos os seres humanos têm seus tigres escondidos, e é necessário tratá-los, de alguma forma, ou então no mínimo controlá-los. Acho que isso de saber o que se vai dar ao mundo, se é o nosso lado amor ou o nosso lado tigre, é o que diferencia uma Madre Tereza de Calcutá de um Radovan Karadžić ou de um Adolf Hitler.

Amei, como sempre, essa tua caixa de diálogo com os comentadores, muito apesar de ser um fator de ansiedade comentar-te e depois ficar à espera da tua aprovação e consequente resposta. Mas vale a pena!

Je t'embrasse avec plaisir, mon amie!

PS.: Só agora eu sei quem é a TK, pois antes não havia achado o blogue dela em lugar nenhum, apenas agora, vendo-a aqui nos comentários. Visitarei-a neste momento, atendendo vossa sugestão.

Lumenamena disse...

Joel Gomes,

Grata pela visita e irei visitar GRAÇA PLENA, e obviamente deixar minhas impressões.

UM Bem Haja,
Lumena

Adh2BS disse...

Prezada;
A busca do sentido da vida é diferente para cada um. Penso que isso faz essa diversidade que nos une e nos separa das outras pessoas, em diferentes níveis de atitude e pensamento. Nascer velho seria um contra senso, um desperdício do aprendizado e da evolução que todos temos que passar para achar o sentido da nossa existência. Belo tema...
Grande abraço,
Adhemar.

Lumenamena disse...

Adhemar,

Grata por te ver cá novamente.

Aceito quando dizes "Nascer velho seria um contra senso...", sim,isso implicaria uma interrupção na vida da alma.

Um Grande Abraço,
Lumena

Edson Carmo disse...

A vida entra no corpo e sai do corpo, a vida passa pelo corpo, mas o corpo é apenas uma passagem na vida. O cheiro existe, sempre existiu! Mas a flor vem e vai, ela é um instrumento para o cheiro. A flor exala o cheiro, mas ela não é o cheiro! A vida é a existência, e tudo existe por meio dela. Não é a existência que vem e vai, e sim o que existe (...). Então não devemos nos ater na pergunta, devemos ser a resposta a tão maravilhosa oportunidade de estarmos aqui. A existência em si não tem nenhum sentido, mas o que existe sim. Hitler deu o seu próprio sentido a sua vida. Madre Tereza também. São sentidos diferentes, mas essa é a escolha de cada um. Escolha a direção, escolha o caminho. Crie o sentido para o seu fazer e até mesmo para o seu não-fazer. Essa vida que você tem, foi Deus quem deu para você – usufrua dela, torne-a uma celebração, uma canção, uma dança...

Edson Carmo

Lumenamena disse...

Edson Carmo,

Lindas as suas palavras.
Servirão para uma excelente e importante reflexão.

Grata,
Lumena

Panurgo disse...

Se, de facto, se nasce e morre, então a vida é reversívil,

primeiro não é; depois é; volta a não ser.

E qual é a direcção? Do passado para o futuro? =)

Lumenamena disse...

Pedro,

Neste texto eu ponho uma questão filosófica.

Precisamente por esse facto de primeiro não é, depois é, e volta a não ser, é um dos problemas da filosofia, precisamente o problema do sentido da vida.
Basta que possamos desligar-nos por instantes das preocupações que nos aprisionam à vida prática, é o problema que se põe, espontaneamente para o homem.
Filosoficamente, não é nada mais do que o questionamento das coisas.

A direcção é sempre do passado para o futuro, mas vou-me colocar no problema com que nos defrontamos hoje não são exactamente os mesmos que as pessoas há muitos séculos, tiveram de resolver, ou pelo menos, não se apresentam da mesma maneira.
É verdade que hoje nós não somos pessoas iguais aos Gregos de antes de Cristo, nem aos Portugueses do tempo da descobertas, nem sequer às pessoas que, apenas há cem anos, viveram nas terras que hoje habitamos.
O sentido da vida, o valor a dar à existência, à nossa origem, à nossa natureza e o nosso destino, são questões que ainda hoje continuam a despertar discussões apiaxonadas.

Grata pelo sentido que orientaste com questões importantes.

Abraços,
Lumena

Panurgo disse...

Mas, como é que pode ser do passado para o futuro? Como é há Não-Ser? É uma contradição gramatical - mas não há problema, visto a filosofia ocidental andar de volta disto há uns quantos mil anos.

O problema com o sentido da vida não é esse. Nem há tal problema fora daquela literatura medíocre de guias de auto-ajuda, ou de patetas como o Kundera.

Mais. Então, para além de sermos muito menos inteligentes do que eles, o que é que nos faz diferentes dos gregos? Acaso temos três pernas e vivemos para sempre?

Beijinhos

Lumenamena disse...

Pedro,

O sentido da vida encaixa-se dentro do passado, presente e futuro...
Cada pessoa tem forma diferente de analisar o sentido da vida.

"É verdade que hoje nós não somos pessoas iguais aos Gregos de antes de Cristo, nem aos Portugueses do tempo da descobertas, nem sequer às pessoas que, apenas há cem anos, viveram nas terras que hoje habitamos".- Penso que não estou a dizer com esta frase, que somos muito menos inteligentes do que eles!!! rrrrrrsssssssss

Qual para ti o sentido da vida?

Beijinhos,
Lumena

Panurgo disse...

Não estás tu, mas estou eu a dizer. Somos muitíssimo menos inteligentes e capazes do que qualquer grego ou homem da Idade Média. Não somos iguais, somos muito inferiores.

Quanto ao sentido da vida, essa pergunta é um engano: frutos dos nossos tempos, lá está. Assim como "cada pessoa tem uma forma diferente...." também é um engano. Nunca leste as Viagens de Gulliver? Tens lá a resposta =)

Lumenamena disse...

Interessante, Pedro!

Vou informar-me nas "Viagens de Gulliver". Logo te direi o que penso.

Grata!

Panurgo disse...

ahaha mas não te esqueças de te informar em Homero, Píndaro, Sófocles, Arquíloco... e por aí afora ;)

Lumenamena disse...

Nomes inesquecíveis, como haveria de me esquecer?
Fica o trabalho, quem sabe postarei algo sobre eles!

Abraços,
Lumena